Salas de Aula

- Certo, todos em seus assentos. - O Sensei pediu, educadamente, e os jovens estudantes obedeceram, ainda conversando sobre os recentes resultados de suas provas finais, que os classificaram - ou não - para o nível mais baixo de um ninja.

Se tornar um Genin era uma ótima notícia para Hikari. Uma que ele contaria com muito entusiasmo para a tia e os vizinhos do prédio onde morava. Finalmente agora ele poderia começar a pegar missões e assim ganhar algum dinheiro. Ele se ajeitou na cadeira, pronto para ouvir o que o professor tinha a dizer, e um pouco irritado com os outros que demoravam a se sentar. A partir daquele dia, eles eram ninjas, e deveriam começar a se portar como tal.

Por ser o melhor aluno de sua turma, ele era reconhecido pelos colegas. Pela educação e dedicação inegáveis, ele era elogiado pelos professores. Só uma coisa poderia se colocar em seu caminho como um problema. Ele não era muito bom em trabalhar em equipe, e era obrigatório a organização dos Genin em grupos de três, liderados por um Jonin. Assim que estavam todos sentados, o professor olhou para sua prancheta e pigarreou.

- Bom, temos aqui as organizações de times. O primeiro time, Time 1, com o Jonin... - ele continuou falando, e informando aos alunos quem seriam seus novos companheiros, e seus novos times. Alguns não era difícil entender o por que. Crianças de famílias ninjas proeminentes que haviam crescido juntos e trabalhavam bem em equipe. Times que equilibravam ninjas com foco em combate e ninjas com foco em investigação. Times com alunos muito bons em infiltração, ou estratégia. E por fim, no Time 8, ele nomeou:

- Neste time, liderado por Yamada Megumi, teremos Yoshida Hikari, Yamazaki Suzume e... Katsumi Hyuuga.

O burburinho tomou conta da sala, já que o trio era bastante improvável. Dois de origem nobre, que nunca precisaram se esforçar muito, e um de família não ninja, mas que se tornara o melhor da turma com grande esforço. Aquele grupo parecia dividido.

Hikari olhou para Suzume-chan, que timidamente fez um aceno de cabeça. Ela era de uma família de gerações de Ninjas médicos, porém não demonstrava talento algum para os negócios da família. O problema era que ela também não conseguia exceder expectativas em nenhum outro aspecto do treinamento até então. Ele retribuiu o aceno, um pouco sem graça, e procurou o Hyuuga em seguida.

Katsumi não precisava se esforçar, porque era naturalmente bom. Pelo menos era o que os professores, alunos e todos os membros do Clã Hyuuga pareciam pensar. Hikari queria cumprimentá-lo, para pelo menos tentar estabelecer algum tipo de paz logo de início, mas era difícil esconder a própria frustração. O professor entregou a cada um deles um papel com as informações de materiais que seriam necessários - mais gastos, pensou ele - e onde seria o ponto de encontro com o Sensei.

Logo que todos haviam sido distribuidos igualmente, Hikari conversava amigavelmente com Suzume, e resolveu chamá-la para ir até Hyuuga, ver qual era a dele. Ele precisava mesmo que aquilo funcionasse.

- Oi, Katsumi. Chamei a Suzume pra comer um hambúrguer, já que nosso encontro com o sensei é só mais tarde. Gostaria de vir, pra gente se conhecer melhor?

Era apenas esperado que ele se tornasse um Genin. Não por ser o melhor da classe. Não por ser da família Hyuuga. Mas apenas por ser superior aos demais. Claro, sua família merecia um pouco de crédito por sua ascensão visto que seus treinamentos e técnicas lhe deram uma vantagem sobre os demais. Porém, mesmo que tivesse nascido de outra família, mesmo que tivesse morado nas ruas, Katsumi ainda seria melhor. Pois certas pessoas eram melhores do que as demais por natureza. Claro, se ele falasse isso logo argumentariam que ele não era o melhor da sala, Hikari era. Seria um ponto justo e algo que desmontaria toda a ideia que Katsumi criara sobre si. Não fosse o fato de que os dois jamais se enfrentaram em um duelo e provas escritas eram de pouca importância. Sim, calcular a trajetória de uma kunai arremessada e levar em consideração a força do vento e a posição do sol eram importantes para garantir que a kunai atingisse seu alvo e não gerasse sombra ou som para que ele pudesse se desviar. Ao mesmo tempo, isso vinha naturalmente para Katsumi. Ele simplesmente sabia a força necessária para um acerto perfeito, não precisava de cálculos nem nada do tipo. Na verdade suas notas só não eram perfeitas por conta de algumas questões que ele respondeu usando ideias mais pessoais ao invés do que era propriamente aceito na comunidade ninja.

Tendo dito isso, ele foi pego de surpreso com a seleção daquele time. Seus companheiros não eram os piores, na verdade pensando de uma maneira tática era até bom que ele estivesse em um grupo com aqueles dois. Hikari, apesar de Katsumi ter uma opinião levemente negativa sobre ele, era claramente dedicado e forte o suficiente para acompanhá-lo nas missões. Não sabia muito sobre Suzume, mas pelo o que se lembrava ela não era boa nas artes tradicionais de sua família. O que não seria um problema, desde que ela fizesse o suficiente para não ser um peso morto. Porém era difícil que ela chegasse a ser um empecilho, sua família era uma das mais antigas de Konoha, logo ela deveria ter o necessário para florescer em uma companheira digna.

- Conhecê-los melhor? - o Hyuuga olhou para os dois.

- Como se eu fosse querer conhecer melhor a ralé como você. - era provavelmente o que Hikari esperava que ele fosse dizer. Ou, no mínimo, negaria a oferta.

- Claro. - Katsumi se levantou, os olhos naturalmente brancos dos Hyuuga passando de Suzume para Hikari. - Se vamos ser uma equipe, o mínimo é ter conhecimento e coordenação.

A resposta não deixou de surpreender, e Hikari assentiu, com as mãos nos bolsos das calças. Talvez, e só talvez aquele grupo poderia ter alguma chance de trabalhar bem.

Ele foi ao lado dos outros, tentando começar a quebrar o gelo ao longo do caminho.